Corais de águas profundas - Ameaças e impactos
Corais de Águas Profundas (CAP) são os principais componentes de um ecossistema que foi devidamente descrito e reconhecido pela ciência há apenas algumas décadas, principalmente devido à dificuldade de acesso às grandes profundidades do oceano. Os avanços tecnológicos permitiram que cientistas de vários países começassem a explorar e conhecer o oceano profundo. O principal avanço foi a obtenção de imagens, pois até então toda a evidência da existência desses habitats era indireta, proveniente de coletas científicas ou até mesmo de arrastos de pesca. Apesar desse reconhecimento formal recente, os CAP enfrentam ameaças que os destroem há séculos.
Pesquisadora ao lado de um esqueleto de coral de água profunda do gênero Paragorgia, obtido por meio de pesca acidental próxima à costa da Nova Zelândia – note o tamanho do esqueleto da colônia. Este indivíduo tinha, provavelmente, mais de mil anos de idade no momento da coleta Fotografia retirada de Roberts et al., (2009).
E foi justamente a atividade pesqueira, que forneceu as primeiras evidências sobre os CAP, também foi a primeira causa de impacto humano sobre eles. A pesca de arrasto foi e ainda é uma das grandes causadoras de perda de habitats de fundo marinho, um impacto direto. Estimativas recentes avaliam que entre 10 e 20 milhões de km2 do fundo marinho sofrem arrasto anualmente, o que corresponde a até a 75% da área de plataforma continental mundial. Fazendo uma comparação, equivale à dragagem do território da Rússia, o maior país do mundo, que possui uma área de pouco mais de 16 milhões de km2. Ao ir cada vez mais fundo atrás do pescado, que já foi exaurido em águas mais rasas, as embarcações empregam técnicas com redes de arrasto que alcançam altas profundidades, que varrem e destroem grandes extensões do fundo marinho, incluindo os recifes de CAP.
O antes e o depois da passagem de uma rede de arrasto em uma comunidade de corais de água profunda. Infelizmente, devido ao crescimento lento desses organismos, este ambiente pode demorar milhares de anos para se recuperar, se é que isso é possível. (Imagem retirada de: www.slideshare.net/devonw/response-and-recovery-potential-of-benthic-marine-ecosystems).
As atividades da indústria offshore de Óleo & Gás podem causar impactos localizados, afetando esses ambientes de corais de águas profundas através do lançamento de cascalho da perfuração de poços, quando os corais podem ter seu crescimento ou sua atividade dos pólipos reduzidos ou sofrer perda de tecido, ou ser afetados pelos impactos físicos durante a instalação de dutos. Todavia, no Brasil, hoje em dia existem diversos regramentos determinados pelo órgão ambiental acerca das atividades dessa indústria, que devem inspecionar as localidades de interesse previamente e evitar a proximidade com esse tipo de habitat.
Há de se lembrar, dentro desse contexto de ameaças, que estas não afetam apenas os CAPs, mas toda a rica fauna associada. Esses importantes organismos construtores, que modificam estruturalmente o ambiente ao seu redor, promovendo o aumento da produtividade e da biodiversidade local e regional. Esses impactos positivos da presença dos CAPs traduzem-se nos serviços ecossistêmicos, que este ambiente gera. O valor econômico gerado na manutenção de estoques pesqueiros, atuando como berçário e áreas de alimentação e refúgio para várias espécies comerciais são muito valiosos para a manutenção da indústria pesqueira. Há também de se considerar o futuro valor agregado de descobertas a serem feitas neste ambiente, como a prospecção de compostos químicos úteis para indústria farmacêutica.