Corais de águas profundas - O que são?
Quando ouvimos a palavra “corais”, logo nos vem à cabeça um ambiente tropical, ensolarado, de águas claras, e uma abundância enorme de vida, representada em diversas formas e cores. Os corais de águas rasas são bem conhecidos do público e, frequentemente, aparecem em documentários e séries sobre a vida marinha, formando belas paisagens propícias para o mergulho e o turismo. São organismos muito importantes para o ambiente marinho, uma vez que agregam alta biodiversidade de peixes e invertebrados e têm grande apelo para a conservação dos mares devido à sua beleza. Porém, está enganado quem pensa que estes são os únicos corais a habitar os oceanos.
Longe das paisagens paradisíacas de águas claras e quentes, em profundidades muito maiores e em ambientes sem nenhuma luz, é onde se encontram os Corais de Águas Profundas (CAP). Diferentemente de seus parentes de águas rasas, os CAP não apresentam simbiose com microalgas fotossintéticas e, portanto, não precisam de luz solar para sobreviver. Estes organismos se alimentam através de captura de microrganismos e na absorção material de orgânico presente na água do mar e que são transportados pelas correntes oceânicas. Outra diferença é que os corais de mar profundo têm crescimento muito mais lento do que seus pares de água rasa. De modo que algumas espécies podem viver mais de mil anos, figurando entre os organismos vivos mais antigos e longevos do nosso planeta.
Os corais de águas profundas apresentam grande diversidade e possuem alta importância ecológica, podendo ser formado por estruturas rígidas ou flexíveis, com diversos formatos, cores e tamanhos (Imagem: Petrobras/CENPES).
Pelo fato de viverem no mar profundo, um ambiente de difícil acesso e ainda pouco conhecido, estes corais começaram a ser estudados muito tempo depois em relação a seus parentes de águas rasas. Somente nas últimas décadas é que o avanço tecnológico, assim como a ampliação das fronteiras de exploração das indústrias pesqueira e de óleo e gás, permitiu um acesso mais frequente a estes ecossistemas pelos cientistas, resultando em um melhor entendimento biológico e dos modos de vida destes organismos tão enigmáticos. No Brasil, a maior parte das pesquisas relacionadas a estes animais contaram com grande colaboração de empresas petroleiras, como a Petrobras, que em parceria com a comunidade científica conduz pesquisas relacionadas a este tema desde 2004. Estas empresas possuem modernos equipamentos de exploração de grandes profundidades. Em especial, é de muita importância a utilização de veículos submersíveis operados remotamente (VSOR) - também chamados de ROV (Remotely Operated Vehicles) - que são capazes de atingir grandes profundidades e realizar filmagens e coletas desses organismos para estudo.
Os CAP pertencem a diferentes grupos dentro dos Cnidários. Eles podem ter esqueleto duro de carbonato de cálcio e são conhecidos como corais pétreos ou escleractíneos. Ou corais moles, que possuem esqueleto proteico flexível, são conhecidos como gorgônias e corais-negros. Estes corais, principalmente os pétreos coloniais, podem formar enormes recifes em grandes profundidades, modificando todo o ambiente e construindo “montes” ou elevações submarinas. Estas feições se sobressaltam ao fundo marinho gerando um ambiente tridimensional e, desta forma, atraem uma grande diversidade de animais à procura de abrigo e alimento. Por esta característica de modificarem o ambiente, os CAP são considerados como “engenheiros ecossistêmicos”. Isto faz dos CAP tão ou até mais importantes do que os corais de águas rasas, abrigando inclusive espécies de peixes com valor comercial, e despertam cada vez mais interesse de cientistas e estudiosos em todo o mundo.